Mulher
Você ri da minha alma, ignora o por do sol e faz do meu tempo o tempo dos sem razão. Tem no catecismo de si a marca da glória de ser quem vai mais longe, quem pode demais pelo simples fato de saber mandar, prevalecer e dizer ao mundo atordoado que sua lógica tem açúcar, imaginação e brilho.
Beatrix que caminha segura, dedilha o celular em segredo provocando ciúmes e diferenças dos seres inermes ao seu redor. Domina a cena e diz de si com a certeza que irá fazer o grau superlativo total. Essa mulher que resolve por convicção, descobre por talento in natura, os gaps dos viventes iguais a mim.
Scarlett somatiza o verbo pensar e absorve por ondas de rádio aquelas dúvidas que a vida oferece para os mais tenros, os ineficazes que não sabem atravessar a rua. Faz esquete da sombra da maldade e esconde de si e do bandido, sua própria dor a que teve direito na vida.
Evalinda gosta de cores, de dores alheias, dos anjos caídos de tanto tentar caminhar sobre águas sem caminho das pedras. Evoca a energia do universo com a fé irremovível dos sacramentos de luz, da certeza de um Deus irreverente de tão onipotente. Deixa fluir de sua verve quente a culpa dos inseguros, daqueles geram incompetência no rés da vida.
Marilyn desenvolveu sonoridades ao telefone, no cumprimento aos chatos, na desova das pequenas maldades que até ela tem que ter. Gildalinda circula mentalmente em todos os mundos possíveis numa espécie de onipresença que compete com suas divindades mais profundas. Reza com a fé de um Jó digital e o Excel do apocalipse totalizando as culpas do mundo.
Vivian é oito de março, setedesetembro e trezedemaio. É gênero, independência e alforria. Detém o cálice profano dos beatos expulsos das estações Paraíso, Brás ou Trianon. Dita o caminho das almas pela ordem natural das coisas, pelo conceito do substantivo tenhodireitodeserassim, dane-se o tonto que me ama sem lastro do meu tempo. Minhas regras.
Rose, zomba da estética do mundo e desfila sem esmalte, com jeans despretensioso e cabelos em cachoeira iluminando a imaginação de quem ainda não a ama. Não poupa ninguém num raio de cinquenta km, ainda que sorria pelo canal dos contentes e dê a nota máxima para quem quiser ser trucidado por sua inteligência perversa. Thelma sabe ser má, ser boa e ser normal. Na sua cartilha couchê, as regras do bem e do nem tanto lhe são gratas pelo crivo gestado no confessionário da capela sistina da Roma comum.
Marialinda é doce, lindadenovo, suave e tem cara de sacerdotisa do resto da minha vida. É um convite ao devir de quem sabe o que é definitivo. Mas é arisca, cáustica com aquilo que não é espelho ou responde pelo nome de alguém que ninguém sabe o quem é.
Habita minha alma, preenche minha madrugada, meu gosto refinado e a lua cheia que hoje nem ousou aparecer. Responde sim para o dia mulher, para todos os oito de maios e as representa com a marca de ser quem sabe ser. Mulherlinda é tudo e não quer ser nada.