CINQUENTA MÚSICAS PARA EDUCAÇÃO CIDADÃ
Sempre fui alimentado por músicas! Pois é, a expressão parece estranha e confesso que ao tamborilar estas harmoniosas linhas, deletei, resgatei e substitui inúmeras vezes a ideia de canções nutritivas.
Ao fim, canto-lhes que realmente foi assim que edifiquei minhas relações com melodias e batidas ao longo da vida. O rádio de pilha com moda caipira que chegou não me lembro quando, os discos infantis com músicas do bozo, balão mágico e trem da alegria, as fitas cassetes com rock nacional e internacional pavimentando pontes para a adolescência. Toda essa profusão de sons foi me fazendo crescer ao mesmo tempo em que ganhavam espaço cativo em minhas memórias e histórias.
Ao refletir um pouco sobre as tantas playlists da vida, cheguei à conclusão que além de alimentar, as músicas sempre trouxeram consigo dois grandes poderes “mágicos”. O primeiro marcado pela capacidade de transformar, visto que não foram poucas às vezes em que a alquimia produzida por alguns acordes, palavras e batuques me fizeram renascer, ou enxergar gente querida serem ao menos por instantes literalmente, outras pessoas. Na mesma medida, a mágica da transformação cumpre efeito reverso já que em determinados momentos tem a capacidade de resgatar almas perdidas de si mesmas. Assim, depois de tantas personas involuntariamente assumidas, elas como em um estalar de dedos voltam para casa, embaladas por rimas e harmonias responsáveis por sustentar os pilares mais profundos do que costumamos chamar de identidade.
Falemos então do segundo poder mágico exercido pela música. Trata-se da condição única que trás por resultado a geração de força. Quem olhar superficialmente para esse fenômeno, só vai enxergar os cada vez mais belos músculos, que ganham novos contornos embalados por disciplinadas e ritmadas batidas eletrônicas em academias e treinos ao ar livre. Contudo, uma espiada mais aprofundada, vai permitir ver com facilidade, crianças, jovens e idosos, empoderados (as) graças a um novo sentido de vida. Por meio da dança, da rima, de argumentos e de seus coros acompanhados ou a capela, em algum momento da caminhada, estas pessoas se percebem cidadãs. Depois tudo fica mais belo, pois bailando em meio a tal passe de mágica, vocalizam o orgulho de suas distintas origens, raças e etnias. Como expressão máxima da democracia, a música se materializa engrossando o caldo cultural de todos os povos, aproximando pessoas ricas e pobres, com diferentes orientações sexuais, ou múltiplas identidades de gênero.
Vale dizer que não desconsidero os fenômenos decorrentes de visões preconceituosas e racistas, que por vezes enxergam na música uma possibilidade de opressão e discriminação. Tão pouco busco falar da música em uma perspectiva ufanista que ignora os inesgotáveis abismos culturais que buscamos vencer no cotidiano.
A proposta desta conversa, é contribuir e reafirmar para que trabalhadores e gestores de distintas políticas públicas, tenham na música um valioso instrumento para a implementação e qualificação de Social Soluções.
As possibilidades são infinitas, porém sabemos que por meio de palestras, atividades lúdicas, acolhidas no território, jogos, aulas e brincadeiras, pode-se encontrar na música elementos fundamentais para trabalhar questões complexas e presentes na vida de trabalhadores e usuários.
Criança não trabalha! Este é o título de uma das mais aclamadas músicas da dupla Palavra Cantada. Criança dá trabalho! Cantando em alto e bom tom, Paulo e Sandra talvez sejam responsáveis por um dos hinos mais entoados por educadores sociais, professores, familiares, crianças e adolescentes, quando o assunto é enfrentar e combater o fantasma do trabalho infantil. As contribuições da dupla, contudo não param por aí. Preguiça, Segurança alimentar, história do Brasil, consumismo, resgate de brincadeiras antigas e o crescimento, são alguns de tantos outros temas importantes com os quais a dupla tem contribuído para trabalhar a partir de suas canções.
“E o motivo todo mundo já conhece, é que o de cima sobe e o de baixo desce bomxibomxibombombom”. Engana-se quem busca apenas nos clássicos ou em letras rebuscadas, alternativas para problematizar questões sociais e dores cotidianas, exemplo disso é a aparentemente despretensiosa música do conjunto As Meninas, que explodiu como um rit popular no finalzinho dos anos noventa.
“E o que algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”. Sem dúvidas esta é uma de minhas músicas preferidas, tanto para qualificar determinados processos formativos, ou mesmo na busca de inspiração para propor tantos outros. Seja pela voz de Elis ou de Belchior, melodia e letra chegam com um sopro de novidade que não nos permite se acomodar diante da sedução gerada pelo conforto do lugar comum.
Para fazer desse texto uma contribuição com várias notas e tons, apresento a seguir um link para uma Playlist que criei no Spotify batizada com o nome deste artigo. Convido-lhe a ouvir, compartilhar e propor atividades que possam potencializar sua ação de líder e educador (a) a partir destas canções. Convido-te ainda para compartilhar conosco suas criações e outras músicas que têm feito a diferença no dia a dia.