8 DE MARÇO: As lutas e consensos que deram origem ao dia internacional da mulher

por: Samara Xavier

8 DE MARÇO: As lutas e consensos que deram origem ao dia internacional da mulher

Não há acordo quanto as “motivações exatas” que fundamentaram o estabelecimento do dia “8 de março como o Dia Internacional da Mulher”. Foram muitas e múltiplas as manifestações de luta de mulheres por todo o mundo ao longo do tempo. No entanto, ao estudarmos o passado identifica-se consensos que merecem destaque. Segundo a historiadora espanhola Ana Isabel Álvarez González no livro As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres, publicado pela editora Expressão Popular, curiosamente a origem da data passa pelas eclosões ocorridas nos Estados Unidos, como também, pelas manifestações da Rússia soviética.

Ainda nessa busca pelas motivações que geraram o reconhecimento do 8 de março como o dia mundial para as lutas das mulheres, a professora e filósofa Angela Davis nos conta sobre um evento que ocorreu em 1908 nos Estados Unidos, “as mulheres socialistas do Lower East Side, em Nova York, organizaram uma manifestação de massa em apoio ao sufrágio igualitário, cujo aniversário [do Dia da Mulher seria] comemorado”. Aqui o objetivo das manifestações ainda eram lutas dispersas por diversos direitos específicos, como por exemplo, questões que diziam respeito as condições de trabalho, e, pelo direito das mulheres ao voto. Após isto foi celebrado em 28 de fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, por iniciativa do Partido Socialista da América, em memória de uma greve ocorrida em no ano anterior uma mobilização das operárias da indústria de vestuário de Nova York contra as más condições de trabalho, da Mulher. Naquele dia, cerca de 15 mil mulheres marcharam nas ruas da cidade por melhores condições de trabalho. Na época, as jornadas para elas poderiam chegar a 16 horas de trabalho por dia, seis dias por semana e frequentemente se trabalhava nos domingos.

Além desses eventos de 1908 e 1909, destacam-se outros marcos importantes para a consolidação de uma data para se pensar, lembrar e dar visibilidade mundial para as demandas das mulheres. Em 25 de março de 1911, às 5 horas da tarde, ocorreu um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, que matou 146 trabalhadores: 125 mulheres e 21 homens. A fábrica empregava 600 pessoas, em sua maioria mulheres imigrantes judias e italianas, entre 13 e 23 anos. Uma das consequências da tragédia foi o fortalecimento do Sindicato Internacional de Trabalhadores na Confecção de Roupas de Senhoras, conhecido por sua sigla inglesa ILGWU. Essa tragédia se somou ao processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher que já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e europeias há algum tempo. Inclusive, já havia sido ratificado com a proposta de Clara Zetkin, professora, jornalista e política marxista alemã.

O fato ocorreu em 1910, com a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhagen, Dinamarca, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada a proposta, apresentada pela alemã Clara Zetkin, de instituição de um Dia Internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada.

A proposta de Zetkin, segundo os registros que se têm hoje, propunha uma jornada anual de manifestações das mulheres pela igualdade de direitos, sem exatamente determinar uma data. O primeiro dia oficial da mulher seria celebrado, então, em 19 de março de 1911. Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Christiania (atual Oslo), contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin fez uma conferência sobre o tema.

 Avançando no tempo e mudando de continente chegamos a 1917. Naquele ano um grupo de aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, denunciando e lutando contra as más condições de trabalho, a fome e a participação Rússia na guerra, esse protesto ficou conhecido como “Pão e Paz”. O protesto aconteceu em 23 de fevereiro pelo antigo calendário russo – 8 de março no calendário gregoriano, que os soviéticos adotariam em 1918 e é utilizado pela maioria dos países do mundo hoje. Após a revolução bolchevique, a data foi oficializada entre os soviéticos como celebração da “mulher heroica e trabalhadora”.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Por fim, a data foi mundializada oficialmente pela Organização das Nações Unidas em 1975. O chamado Dia Internacional da Mulher se deu para lembrar e continuar a luta pelas conquistas políticas, sociais e econômicas das mulheres ao longo dos séculos, principalmente pelas transformações ocorridas na sociedade nos séculos 19 e 20.

O Dia Internacional da Mulher é uma data fundamental para lembrarmos e lutarmos pelo reconhecimento da importância em se dissolverem as diferenças socialmente construídas entre os gêneros. Ou seja, é uma data que remonta a lutas por melhores condições de vida e trabalho, mas, sobretudo uma luta histórica para romper com a permanência da opressão dos homens sobre as mulheres.

É uma data para falar, refletir e lutar pela liberdade.

“Eu não serei livre enquanto houver mulheres que não são, mesmo que suas algemas sejam muito diferentes das minhas” — Audre Lorde

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