SEM UM DARCY PARA VOTAR

por: Aurimar Pacheco

Falando de eleição, nomes de sempre nos últimos anos aparecem nos adesivos de automóveis e relampejam na TV: Keko da biroska, Zeca Japonês, Amadeu da farmácia, Jandira da feijoada e demais denominações que viraram moda nas eleições recentes, e que tentam popularizar o candidato a partir de funções e posições utilitaristas nas cidades brasileiras. Personagens do cotidiano das municipalidades que buscam alinhar com simpatia, seus horizontes de postulantes ao poder legislativo municipais.

A mensagem subliminar é que, em sendo supostamente “do povo”, esses personagens são legítimos para entender os problemas da municipalidade, e como conhecedores das dores e suplícios da coletividade excluída do mainstream, seriam os solucionadores naturais disso. Como vivenciadores da rotina das dificuldades, seriam os automáticos, autorizados e imediatos personagens próprios da democracia que ‘darão jeito na situação’.

Dos nomes nada a cobrar. A biroska deve ter sido um lugar onde o Keko foi feliz, e têm passado muitos dos melhores momentos de sua vida. O Zeca, com supostos traços orientais, ou sobrenome nipônico, não sabemos, busca pressupor hábitos diferenciados dos brasileiros, na toada de eficiência daqueles que da terra do sol nascente sugere, diante de grandes desafios. O Amadeu, em tempos de pandemia, associa seu fazer em benefício da saúde dos munícipes e a preservação da vida, enquanto a Jandira apela para o feijão com arroz que alimenta e tem mandato perene nas mesas e quentinhas dos brasileiros.

As estratégias de marketing para aproximações e identificações aos gostos da população tem sido mais que um caminho para seduzir votos. Alguns até crêem em suas soluções e atiram-se à carreira política institucional pelos possíveis benefícios pessoais quase que infinitos até algo nobre de melhorar seu município.

Há também o discurso dominante que habita nossas mentes e corações de que essa Democracia dá voz e oportunidades a todos e que desse bolo que consegue eleger-se, haverá o ambiente favorável aos acordos e consensos no parlamento, que fazem a sociedade funcionar e, por conseguinte evoluir. 

O detalhe é que essa maioria que expressa nosso conceito de Democracia, parece não mais ter razão ou significar garantia de pensamento coletivista e socialmente engajado. Se por um lado temos hoje o complexo fenômeno das bolhas fabricadas pelos algoritmos dos últimos dias, nichando ideias convergentes e limitadas, temos ainda, também como consequência disso o aumento das manifestações e visões de mundo mais conservadoras, estapafúrdias e lamentáveis.

A razão que pressupõe ter a maioria na Democracia, nunca foi tão fácil de contestar. Uma maioria que dispensa a ciência, história ou ética ou que reacende e estimula truculências, armamentos e destruição em massa do meio ambiente não seria o que imaginavam os gregos na sua àgora. Sequer nossos ancestrais que tanto lutaram com ideias libertárias de desenvolvimento e equidade social. Parecia haver uma certeza de que a maioria sempre procura as mais civilizadas formas de viver em sociedade. Enganamos-nos.  

Se já experimentamos sem sucesso, durante muito tempo, os acadêmicos como os ocupantes naturais dos cargos eletivos nas câmaras e plenários da política do país, constatamos agora que a fórmula inversa, os aparentes não acadêmicos acabam por se deixar seduzir por soluções mágicas e extravagantes que não tem conseguido qualificar o parlamento, como o esperado, a julgar pela destruição das conquistas sociais e humanitárias via legislativo pelas reformas concluídas em curso ou anunciadas.

Da minha parte ainda prefiro pensar no critério de confiança de algumas personalidades construídas na própria discussão política, envolvendo comprometimento público e fundamento do conhecimento acumulado pela humanidade, seja pela academia ou pela educação popular coletivista. Nada de heróis, salvadores cósmicos ou abençoados. Apenas pessoas com suas imperfeições, mas com algumas qualidades que marcam a história de uma nação. Uma espécie de Darcy Ribeiro, por exemplo.       

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